quinta-feira, 30 de outubro de 2008

VAIDADE DAS VAIDADES! TUDO E VAIDADE

VAIDADE DAS VAIDADES! TUDO É VAIDADE
Em Outubro de uma primavera, já no século XXI, os trabalhadores de uma repartição pública cansados de esquecer o seu dia nacional, lembraram os velhos tempos e resolveram confraternizar, não mais à moda antiga, porém enquadrada à era do venha-tudo-a-mim e para-você-nada, ou no hábito arraigado do faz-de-conta.
Conforme o combinado, contrataram o melhor restaurante da cidade para uma festa de dar ibope. O Supervisor da Associação, César Marques, personalidade associativa, político ativo, bem relacionado e filiado ao maior partido deu a partida para os preparativos fazendo os convites por uma teleconferência com o pessoal da ativa e pela propaganda de boca-a-boca para os aposentados. O aposentado de ponta, um homenzarrão com dois metros de altura por um de largura e papudo fazia jus ao apelido de Chemipápudo foi o iniciante da tarefa. Enquanto o pessoal da ativa completou o trabalho em menos de uma hora, os inativos demoraram quase um mês. Antes de chegar à publicidade sugerida, Chemipápudo tentou divulgar o evento por telefone, sem resultado, quase todos inexistentes; prosseguiu por carta, retornada a maioria por falta de endereço. Foi aí que surgiu a idéia de fazer plantão dentro do Banco da Cidade segundo dia útil do mês. Antes da abertura das portas já se formavam uma fila do lado de fora e nela, além de outros aposentados, lá estavam Anafúede e Mário Moca, dois antigos aposentados já nos seus oitentões, esperando para embolsar os proventos. Estes foram funcionários homenageados com medalhas de honra ao mérito pelo desempenho funcional, passaram por várias chefias e desembocaram na reta final, um como presidente da Associação dos Funcionários e o outro Prefeito da cidade. Duas personalidades merecedoras de todo respeito.
Chegado o dia aprazado, 28, os primeiros a chegar dentro do horário foram os personagens protagonistas, inclusive o observador Dovézea, este ainda setentão, mas já carcomido pelos reumatismos, corroído fisicamente para a morte, porém altivo espiritualmente para a vida; ladeado à esquerda por Chemipápudo e à direita com Anafúede, Mário Moca e o filho deste como acompanhante.
A canseira para o convite dos aposentados foi o tema de abertura para a fanfarronice de Chemipápudo. Blasonava ele de seus feitos com relação ao passado. Por que os aposentados sequer têm telefone? O endereço consta como do filho tal e tal? Eu ainda faço-e-aconteço, tenho celular Iphone, comunico pelos sites de relacionamentos, aonde vou levo meu notebook. Olha aqui, pondo-o em cima da mesa. É dos mais modernos; com ele falo e vejo meu filho nos estrangeiros, jogo playstatio e nintendo, assisto TV e, por aí afora. Antigamente a gente tinha carrinho de rolemã, mas agora tem carro inteligente que até conversa com o motorista. Neste computador e com ele na internet, relaciono-me com os amigos no Orkut e guio-me nas viagens pelo GPS, e monitoro a minha casa. Isto é maravilhoso! é progresso! Estamos na era da tecnologia e ela existe para ser utilizada. Será que ele domina as configurações de TI?, murmurou alguém do outro lado da mesa, na ausência para uma necessidade fisiológica.
Devézea, neste instante, interrompe e argumenta com seus circunstantes: Tudo isto é uma beleza; entretanto, no meu tempo a agente tinha amigos, hoje tem concorrentes em quaisquer segmentos da sociedade e até no famíliar. Progredindo como está a tecnologia, a mídia já prevê em breve o monitoramento pelo Google de todos os internáutas navegantes pelos seus sites, principalmente nos de pesquisas. Eu não sou nenhum profeta catastrofista , mas logo logo estamos todos chipados. E, o pior é que os manipuladores de chip’s terão acesso a todos os dados das pessoas chipadas.
Anafúede e Mário Moca ficavam somente prestando atenção nas conversas sem emitir comentários, somente respondente sim..., não..., talvez.... Com o barulho do vozerio, tudo era inaudível para eles. O pai ao lado do filho não trocaram uma palavra sequer e este conversando raramente amenidades com Devézea.
Estando presente a maioria dos aposentados, começaram retardadamente a comparecer os colegas da ativa, a princípio os desconsiderados e, à medida que passava o tempo iam chegando os mais considerados obedecendo a ordem da graduação, até por último o pessoal da elite. Estes como quê adotando a passagem do Evangelho dispondo: “os primeiros são os últimos e os derradeiros serão os neófitos”,assim conjeturavam.
Ao passar do tempo iam chegando pessoas, e mais pessoas, na proporção de dois inativos para cada dez ativos e no total aproximado de oitenta indivíduos. Os aposentados mais velhos ficaram nos fundos da sala - desconhecidos e ignorados - e os trabalhadores na frente – ilustrados e lembrados. Os aqui tratados como protagonistas foram os tritagonistas dentro da moderna realidade, sem ao menos notadas suas presenças. Considerados atores de quinta ordem.
À medida que iam entrando no recinto pouquíssimos colegas cumprimentavam efusivamente, alguns dispensavam um simples aperto de mão aos já presentes e os da elite sequer enxergavam os convidados. Entretanto, César Marques tendo comparecido já no final do evento fez questão de cumprimentar todos com forte aperto de mão.
Personagens das personagens, tudo é considerado personagens; assim como “vaidade das vaidades!, tudo é vaidade”(ecle.1,2)
E Dovézea completa: Tudo passa, tudo muda neste mundo de ilusão, vai para o céu a fumaça e fica na terra o carvão.

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