domingo, 7 de setembro de 2008

INGRID BETANCOURT e O MILAGRE DA LIBERDADE

O texto abaixo foi tirado do site ZENIT publicado no dia 06-09-2008.

Ingrid Betancourt revela como Deus tocou seu coração
Confidências após a audiência com Bento XVI
Por Carmen Elena Villa Betancourt
CIDADE DO VATICANO, terça-feira, 2 de setembro de 2008 (ZENIT.org).- Após os 25 minutos de encontro com Bento XVI ontem, no palácio apostólico de Castel Gandolfo, a ex-candidata à presidência da Colômbia, Ingrid Betancourt, revelou em uma coletiva de imprensa como Deus lhe tocou o coração em seu cativeiro.
Antes de ser seqüestrada, em fevereiro de 2002, Ingrid era uma mulher de pouca fé; ela mesma reconhece isso. Contudo, durante os quase 7 anos que permaneceu em poder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), no sul da selva colombiana, os únicos livros que tinha consigo eram a Bíblia e o dicionário; assim, durante os longos dias de cativeiro, ela se dedicava a ler e meditar a Palavra de Deus.
Consagração ao Sagrado Coração
Ingrid todos os dias escutava o rádio para poder se distrair e se informar. Um mês antes de sua libertação, em 1º de junho passado, estava ouvindo a Rádio Católica Mundial e escutou as promessas que experimentaria quem se consagrasse ao Sagrado Coração.
Ainda que Ingrid reconheça que não se lembra de todas, enumerou-as aos jornalistas: a primeira é tocar o coração duro de quem lhe faz sofrer; a segunda, abençoar os projetos do interessado; e a terceira, a ajuda para carregar a cruz e a presença divina na passagem da morte.
Ingrid relata que, ao escutar estas promessas, disse: «Isso é para mim. Eu preciso que Deus toque o coração duro da guerrilha, que toque o coração duro de todos aqueles que não deixam que a nossa liberdade se manifeste».
«Eu preciso que a minha missão, que é a de obter a liberdade de todos nós, Ele a tome para si, que a abençoe e permita que isso aconteça. E eu preciso que Ele me acompanhe para levar esta cruz porque sozinha eu não posso mais», comentou a cidadã colombo-francesa.
Ao conhecer estas promessas, Ingrid comenta que disse ao Sagrado Coração: «Jesus, nestes anos eu nunca te pedi nada. Mas hoje sim vou te pedir algo: como este é o mês do Sagrado Coração, teu mês, vou te pedir que me faças o milagre, não de minha libertação, porque não creio que seja possível, mas faze-me o milagre de que eu saiba quando vou ser libertada, porque se eu souber quando, por mais que seja dentro de muitos anos, vou ter a força para agüentar. Se tu me fizeres esse milagre, Senhor meu, serei tua».
Ingrid conta que disse ao Santo Padre: «Eu não sei o que quer dizer ser de Cristo». Ele lhe respondeu: «Ele vai te mostrar o caminho».No dia 27 de junho, um comandante das FARC foi falar com Ingrid: «Há uma comissão internacional que vai visitar os prisioneiros e é muito provável que alguns de vocês sejam libertados».
Ingrid conta que o Santo Padre lhe disse: «Ele fez o milagre de sua libertação porque você soube pedir. Porque você não lhe pediu a sua libertação, mas que se fizesse a vontade d’Ele e que Ele a ajudasse a entender essa vontade».
Crer em Deus
Betancourt aproveitou a ocasião para convidar todos aqueles que não crêem: «Há muitas pessoas que estão distantes de Deus e não querem acreditar, e tantas pessoas que têm vergonha de crer em Deus. A única coisa que posso lhes dizer é que há alguém que nos ouve e nos fala com palavras e que se nós entendermos como falar com Ele, Ele vai nos ajudar».
Após a audiência, Ingrid assegurou que Bento XVI sempre ora pelos seqüestrados: «O Papa leva a dor dos que sofrem em sua alma», é um «homem de luz».
Igualmente, enviou uma mensagem de alento àqueles que foram seus companheiros no cativeiro e que ainda não foram libertados: «Sei que esta voz vai chegar à selva colombiana. Sei que logo vou abraçá-los na liberdade».
Também fez um apelo aos membros da guerrilha, que atualmente têm cerca de 3 mil seqüestrados em seu poder: «Vocês me tiveram sete anos cativa. Eu os conheço profundamente, conheço sua organização, sua maneira de pensar, seus objetivos. Hoje quero dizer-lhes que o mundo está esperando por vocês. O mundo quer que haja espaços em sua mente para que vocês alcancem a paz na Colômbia. (...) A resposta está no coração de vocês, não nos cálculos militares e políticos», concluiu.

ENVELHER – LICÕES PARA NÃO...

Quando o idoso envelhece de fato é por que passou pela vida sem amadurecer. Quando o homem se fecha em sí mesmo e não se abre para novas idéias, tornando-se radical, aí ele fica velho; não só por sí, mas também pela sociedade que o considera inútil.
Há quem diz ser o envelhecimento assustador para o novo – o moderno – porém dentro da atual realidade, nem a morte assusta mais ninguém. A vida tornou-se uma banalidade dentro do egoísmo reinante.
No meio desta realidade, digladiam-se os defensores de que o velho é aquele que só pensa em si, esquecendo dos outros; mas há quem condena esta tese para defender o amor em si, e os outros que se cuidem; puro narcisismo.
Para entrar nesta luta dizem os otimistas, os que vivem de bem com a vida que o homem envelhece, de fato, quando esmorece-se e deixa de lutar, quando não mira a natureza e o desenvolvimento da sociedade. A vida. Olhando o passado, pode-se tirar lições dos erros e mirando o futuro, corrigi-los. Na juventude aprende-se coercitivamente, na meia-idade pelo necessário e na velhice pela compreensão experimental. Neste sentido dizem que o vinho velho é melhor. Quem tem olhos para ver, enxergam a comparação.
“Estamos matriculados na escola da vida, onde o mestre é o tempo” defende um autor anônimo, pois é a acertiva mais contundente para o envelhecer com qualidade.
Fala-se, ainda, uma frase Azevediana que o jovem vive no acidente da natureza, mas o idoso perdura como uma obra de arte na passagem do tempo aproveitado e conquistado nas batalhas da vida.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

BAILE À FANTASIA

Romeu estupra a moda e contraria o modernismo exagerado. Difícil de responder esta pergunta: quem acredita atualmente na fidelidade dos maridos? Afirmativamente é difícil crer, mas fácil de ter como verdadeiro o oposto.
Entretanto, se o marido fosse Romeu, sem quaisquer dúvidas poderia dar-lhe crédito, porque era o símbolo da honestidade, tão em desuso hoje. Levou muito a sério o compromisso matrimonial exposto à comunidade nas cerimônias do casamento: “... na alegria e na tristeza, na saúde e na doença até que a morte os separe”.
Certa vez, já na época modernista do“casa descasa, ajunta e separa”, ocorreu um episódio bem interessante, fora de moda é verdade, mas bem ao estilo do romântico Romeu.
O jovem casal foi convidado para uma festa à fantasia. Na noite do evento, a esposa foi acometida de uma terrível dor de cabeça. Então disse ao marido que fosse sozinho. Embora ele gostasse de estar sempre acompanhado da esposa, resolveu ir desacompanhado, porque se tratava de uma promoção meritória de um grupo de amigos. Assim, pegou a fantasia, despediu-se da esposa com um beijo, como de costume, e foi. A mulher após acordar de um leve momento de sono, percebeu haver passado a dor de cabeça e, como ainda desse tempo, decidiu ir também à festa com a idéia mais intencional de espreitar o marido do que se divertir, pois tinha certeza de que ele ignorava o estilo da sua fantasia.
Chegou à festa e logo deparou com o esposo fantasiado no salão, dançando com uma linda mulher, beijando aqui, passando a mão ali, entreolhando-se com olhos de peixe morto... Ela, matreiramente, foi se achegando como quem não quisesse nada, jogando beijinhos e mostrando olhares maliciosos até que... conquistou, tirando-o dos braços da desafeto, não sem antes se entregar totalmente a ele. Ela deixou-o ir até onde quis com sensualidade, as mãos e a intenção, afinal era seu marido, pensou...
Ele sussurrou uma esperada proposta em seu ouvido que, prontamente foi aceita: estava de prontidão a armadilha na sua mente. Só faltava cair a presa, e ela o desmascarar. Foram para o carro e lá “ficaram” na linguagem moderna, sem retirarem as máscaras, de acordo com a avença. Assim que terminou a “coisa”, ela pediu desculpas ao deixá-lo de imediato e foi embora, e... pelo caminho imaginando: que sem vergonha!, homem sem caráter!, todos eles são iguais!... que desculpa vai dar sobre seu comportamento na festa quando chegar em casa? Vou desmascará-lo, pegar minhas trouxas e ir embora de lá; vou para a casa da minha mãe. E... assim foi matutando até chegar, deitar-se e pegar algo para ler até o regresso do marido.
Quando ele regressou, ela de livro na mão se pôs de pé e, com a cara mais dissimulada do mundo, perguntou-lhe: como foi a festa, meu bem?
– Ah, a mesma coisa de sempre, não é?... Você sabe que eu nunca me divirto sem você ao meu lado, entende meu anjo?
– Mas, você não dançou com ninguém? Nem sozinho, meu bem?
– Com ninguém e nem sozinho, você me conhece, meu anjo! Encontrei lá os meus amigos Zé Ícaro, Leontra e Folclorino e na cozinha resolvemos bater papo, contar piadas e jogar cartas e assim passamos o tempo todo; você conhece como é o Folclorino... ao lado dele todos se divertem. Mas, vou lhe revelar um fato curioso: um colega de Folclorino não levou fantasia, e como já havia decidido não usar a minha, a emprestei a ele. Você precisava ver como estava esfusiante no fim da festa, alardeou para todos nós haver tirado o maior proveito da vida com uma mulher incrível!!!
Se ela revelou ao marido quem era a mulher inacreditável, ninguém soube; porém nunca mais duvidou da fidelidade de um esposo romântico. Marido fiel?... É uma espécie em extinção!

ZÉ DA BAIA, OU PROCURADOR DE PEÇAS?

No dia 08 de dezembro, dedicado à Nossa Senhora da Conceição, Leontra galgou o primeiro degrau da escada profissional, ajudado pelo seu primo Chaline, na obtenção do primeiro emprego com carteira registrada numa oficina mecânica administrada pela empresa Ladário Comércio e Indústria S/A. Naquela altura da vida profissional estava em estado de graça com muita disposição para a construção de um risonho futuro: saúde, fé em Deus, força de vontade e bastante garra.
Nos seus esforços para trabalhar honestamente e no ânimo a fim de estudar com afinco, empregava tudo o que fosse possível para alcançar os principais objetivos. Por isso, enquanto trabalhava na oficina, levava cadernos e livros para estudar nas horas de folga e escondido no banheiro, nos momentos em que as tarefas assim proporcionassem.
Ao mesmo tempo em que trabalhava em serviços humildes de oficina mecânica já pensava em progredir ao prestar todos os concursos públicos surgidos para os mais variados cargos de nível médio. Passou por muitos dissabores, a fim de se adaptar ao novo emprego, quer no relacionamento com os colegas, ou também pela timidez e inexperiência no trato com o público usuário da empresa.
Um adágio popular dizia que “há males que vêm para bem”, e isto foi aplicado a Leontra, quando aquele senhor idoso o denunciou falsamente junto ao patrão. A sua demissão forçou-o a procurar outro emprego, encontrando este logo a seguir para desempenhar as tarefas de Serviços Gerais. A benevolência do seu primo, na época da sua maior penúria profissional, foi um dos fatos marcantes. Isto ficou preso na sua memória até o fim da vida e foi de enorme gratidão à prole do benfeitor, expressava ele.
O desempenho dos serviços gerais na oficina foi o trampolim para a arrancada definitiva de onde partiu Leontra para o sucesso. Entretanto, a permanência nele teve muitos dissabores. Primeiramente, por ser um tabaréu da roça e de costumes inversos, logo os colegas, ao perceberem aquela condição, passaram a fazer chacotas ao colocar-lhe todo tipo de apelidos. Pegou o de Zé da Baia por ter sido o de maior oposição. “Zé” em razão dos dois irmãos Zés e “Baia” em virtude da suposta zoofilia praticada pelo caipira, quando morava na roça. Depois foram as maneiras desdenhosas no tratamento profissional, como por exemplo, mandando-o buscar triângulo quadrado no almoxarifado para extrair dente do motor, ou um pano para enxugar gelo, e por aí afora. Posteriormente apareceram os demais problemas, advindos da timidez na difícil adaptação ao trabalho e na dificuldade de relacionamento com os chefes. Sentia-se inseguro em desenvolver o seu potencial de trabalho, nas ordens absurdas dos companheiros, e por fim o tolhimento da sua expansão profissional. Em todas essas barreiras estava lá Zé Baiano para encorajar o amigo-irmão Leontra e pedir-lhe paciência e perseverança que o comportamento honesto e sincero do trabalhador sempre proporciona bons resultados.
No período desse emprego e também com a orientação amiga de Zé Ícaro, Leontra executava não só as tarefas a ele atribuídas como também todas as demais solicitadas pelos colegas. Oficialmente deveria fazer a varrição das oficinas; descarregar e carregar peças e motores; controlar a entrada e saída dos serviços mecânicos; transportar manualmente dentro das oficinas todo tipo de material e demais serviços gerais. Entretanto, procurava também fazer algo mais em pequenos momentos de folga, tais como retirar peças do motor; desmontar motor; desempenar tampão; esmerilhar válvulas; e por fim ajustar motores, montando pistões, bielas, e virabrequim nos blocos.
Essas tarefas ele procurava executar fora do expediente normal e nos intervalos de refeição e lanche. A princípio fazia aquilo meio escondido, porque argumentavam os colegas sobre a possibilidade de comprometer a qualidade do trabalho, pela inexperiência do “mecânico”. Essa controvérsia durou pouco tempo até chegar ao conhecimento do diretor que lhe deu todo apoio para também aprender o ofício de mecânico. Porém, deveria executar primordialmente as tarefas da sua função contratual. As ilações dos chefes sobre defeitos dos serviços executados por Leontra também não tiveram sustentação, porque até então os clientes estavam satisfeitos com a qualidade. Daí em diante Leontra passou a ser causa de divergências entre os diretores, a respeito de promoção profissional. Lábino o incentivava, Icica era contra, Doniral ficava indiferente, e os chefes coçavam o cotovelo, procurando impedir o seu progresso, por inveja. Fazendo trabalho além das suas obrigações no emprego e caindo nas graças do patrão que mais diretamente estava ligado ao seu trabalho, Lábino até permitia implicitamente que ocupasse os momentos de folga para estudar as matérias nos dias de prova na escola.
O Lábino, querendo lhe premiar, certa vez removeu-o para trabalhar na limpeza da loja de peças nas ausências do faxineiro. Lá ele continuou com a mesma disposição de não ficar ocioso em instante algum, arrumando e organizando as peças nas prateleiras. Além disso, ainda ajudava a fazer alguns serviços externos, como o de levar ou buscar peças em outras lojas. Um dos fatos que marcaram Leontra naquela ocasião ocorreu num desses momentos, quando foi incumbido de buscar uma peça na loja do Tonabomba. O pessoal balconista era zombeteiro e gozador, motivo que fez ultrapassar a linha do razoável nesse episódio. Leontra foi “procurar” um jogo de bronzina que já havia sido transacionado entre os vendedores de ambas as lojas, e naquele vaivém, diz quem diz, quem falou e não disse, não se identificava a pessoa que deveria lhe entregar a peça. Aquele “quintiliálogo” enfadonho chegou até ao diretor, que se referiu a ele com a seguinte menção desdenhosa: “aqui está o Procurador da Ladário! ao que o outro lá do fundo respondeu:Ah!, procurador de peças?” Aquele ato de arrogância desprezível do empresário e de seu empregado feriu-lhe no mais profundo do ser e lhe corou o rosto de vergonha, de tal maneira que nunca se esqueceu daquela humilhação. Esse foi um fato motivador a lhe insuflar a vontade de se atirar com mais garra ainda na guerra da vida, de maneira tal que, muito tempo depois, Leontra pode mostrar a eles que fora alguém profissionalmente superior a procurador da Ladário Comércio e Indústria S/A.
Assim, ele trabalhava na loja e ainda ajudava nas tarefas da oficina, quando aumentavam os serviços dela. O Doniral, diretor comercial, responsável pela venda de peças, observando a vontade, o esforço e as qualidades do faxineiro substituto, aceitou transferi-lo para a Divisão Comercial como vendedor, o melhor e mais bem remunerado cargo da empresa. Antes disso o Lábino, diretor industrial, já havia lhe prometido promoção dispondo a lhe ajudar. Entretanto o diretor administrativo Icica e os chefes da oficina foram contra. Resultado: no lugar onde estava lá ficou como antes, sem embaraço e ressentimento, porém com a certeza de que bom empregado é melhor para empresa do que para si mesmo; é prejudicado por ser melhor, pois foram estas as justificativas dos contrários, de que ele era imprescindível onde estava e assim deveria permanecer exatamente na oficina.