Aos amigos para colaborar comigo, lendo esta crônica; crónica? Não sei, mas tentei enquadrar o texto como tal.
DOMÍNIO ATRATIVO
Uma cidade grande do interior paulista foi berço na década de oitenta de uma família nascida sob o signo da atração. O venturoso casal já carregava – cada par – uma força estranha dentro de si capaz de remover montanhas. Analisando a bola da vez carregada na força da atração apregoada pelo best seller “O Segredo” poderia aqui propor tratar-se de pessoas paranormais com poder mental capaz de entortar cabo de garfo como o famoso exibidor circense Uri Gueller. Não. São pessoas normais como qualquer cidadão brasileiro. Gente comum, extraída do povo simples da roça, porém com bastante força de vontade na lida, visando um horizonte com objetivos firmes de progresso. No início da vida a dois já portavam um cérebro privilegiado e uma memória RAN de computador.
Discutiam e digladiavam desde os mais simples assuntos ao decorar uma placa de carro até os mais intrincados conceitos sócios econômicos como o mercado de capitais. Ao lado desta vida prática, comungavam os princípios religiosos cristãos. Dotavam assim o intelecto de conhecimentos externos e físicos com os internos e espirituais. Diria até que exercitavam noções cósmicas de forças estelares como também de estranhas idéias mentais oriundas dos princípios Aristotelianos – “faculdade de intuir os fins últimos da ação humana, inapreensíveis pelo conhecimento discursivo”.
Com estes princípios diferentes da maioria adotaram a máxima de que os iguais ficam parados no tempo e os diferentes seguem em frente, idéia semelhante a que fala uma música popular: “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.
A princípio, Maicro, sujeito forte e robusto com seus 1m95 de altura e 120 quilos de peso adotando a idéia das diferenças procurou uma companheira franzina e raquítica. O namoro foi uma experiência para a união em casamento, algo já em decadência naquela ocasião. Costume arraigado deste vínculo se dar por pessoas parentes, amigas, Zorat, uma desconhecida de complexões miúdas, nariz afilado, olhos oblíquos e testa larga foi o tipo caído nos agrados de Maicro. Trabalharam na mesma empresa, ele gerente e ela serviçal e de lá saíram casados com o primeiro rebento completando a família. Filho e pais diferentes no viver e no comportar. Keye nasceu como qualquer outra criança, mas se desenvolveu forte e rijo como um molecão.
Desenvolveram a vida de trabalho calcado nas idéias esquisitas de não copiar nada de ninguém, mas discutir idéias. Neste sentido, o pai advertia o filho, desde os bancos escolares, levar uma vida estudantil profícua, aproveitando as folgas de recreio para colocar as matérias em dia. Simples, não? Mas, veja de onde partiu todo o sucesso alcançado hoje.
Colocando, assim, o intelecto de conhecimentos externos e físicos Maicro começou exercitar influências cósmicas de forças galácticas, observando o pensamento de Issac Newton e depois de ver a beleza do universo mostrada através das imagens do Telescópio Hubbler, com galáxias distante até dezenas de milhares anos luz da terra e saber que tudo isto continua em expansão contínua, infinitamente. Observou que o cientista autor da “Lei da Ação e Reação”, ou simplesmente da gravidade disse certa vez extasiado:
“Esta noite deixei-me absorver pela meditação sobre a natureza celeste. Eu admirava o número, a disposição e o curso daqueles globos infinitos. Entretanto, eu admirava ainda mais a inteligência infinita que preside este vasto mecanismo. Eu dizia a mim mesmo ... É preciso que sejamos bem cegos para não ficarmos extasiados com tal espetáculo, tolos e ingênuos para não reconhecermos seu Autor e loucos para não adorá-Lo.”
Com idéias encaixadas e disposição de lutador Maicro avançou para a vanguarda com a bravura do leão e a mansidão do carneiro, duas armas antitéticas, mas igualmente eficientes a serem usadas nos momentos oportunos. Zorat recuou na retaguarda, dando suporte ao marido em todas as estratégias, previamente elaboradas. Enquanto isto Keye ia crescendo e se desenvolvendo na filosofia do “ser diferente”.
Enquanto muitos consultavam os compêndios econômicos baseados no consenso de Washington a família trabalhava unida em equipe com pés fincados no chão e cabeça concentrada no universo com base na diversidade dos seres.
Intrigado com a empregada doméstica, há 10 anos prestando serviços à família o garoto questionou o pai:
– Por que nossa empregada é ignorante e teimosa? Ela esqueceu ontem a receita daquele bolo tão gostoso! Peço para abrir a janela, ela abre a porta; mando-a lavar o cachorro, serve a ração. Você já explicou várias vezes a ela a lei das certezas: quem entra sai, quem abre fecha, quem acende apaga, não? Sim Filhão – é assim que Maicro tratava seu molecão – o papai age com ela da mesma forma como tem ensinado você. Confrontar vocês é fácil encontrar as diferenças. Se você fosse igual seria empregado; se ela fosse diferente poderia ser empregadora.
Passaram-se os tempos, percorreram os espaços, tempos e espaços distintos; dentro e fora do sistema sócio-econômico, aqui e acolá como tico-tico no fubá. Maicro ao se ausentar da família para compromissos profissionais de longo prazo adotava a premissa das duas proposições silogísticas de que poderia voltar mais rico ou mais pobre, porém sequer pensava na segunda hipótese. Se a minha saudosa ausência fizer morada na família, procure no coração e aí me encontrarão. Partia repleto de pensamentos na cabeça, cheio de vozes estelares e abundantes cifrões nos olhares. A cabeça ficava, às vezes no mundo da lua, ora na morada dos deuses para captar as vozes das estrelas e falar com mundos distantes; a visão infiltrada no mais profundo do Ser objetivo e encontrar a riqueza. Zorat, cuidando da família, sempre em contato com o marido administrava tudo, juntando bens patrimoniais e elevando Bens espirituais. Diferente do princípio evangélico de que “quem dá aos pobres empresta a Deus”, a esposa de Maicro não entregava aos pobres o que recebia de Deus. Mancomunada com os políticos mais influentes tramava as mais altas falcatruas nas licitações, deixando de executar serviços em obras contratadas, utilizando em proveito próprio recursos de programas sociais. A sua Organização Não Governamental, preparada para funcionar com apoio aos desempregados, na verdade condenava os trabalhadores. De embuste em ludibrio e de logro em fraude, aumentou a diferença da renda nacional: rico cada vez mais opulento e pobre mais miserável. Pura hipocrisia!. Tanto se misturou ao meio que chegou a deputada com objetivo único e exclusivo de posses. Keye, aliado aos pais e no princípio da diferenciação, inverteu todos os conceitos da ética, da moral e dos bons costumes. Eticamente violentou a filosofia, moralmente estuprou a família e habitualmente menstruou as peculiaridades humanas. Com muito dinheiro para gastar fundou entidade contestadora do fim último da pessoa humana, retirou Deus da vida na terra e trocou os conceitos do bem e do mal. Destruiu a célula da sociedade nas famílias incautas com prazeres instantâneos, através de falsas promessas. Mancharam de sangue todas as vidas passadas pela sua organização diabólica, a Igreja Infernal “Cruz de Caravaca”. Atraídos por esta igreja multidões devassas fizeram de Keye um ídolo às avessas com status divinos.
Riqueza, posses e status são tudo o que os diferentes almejam e nada que os iguais alcançam, pois quem sou faz a diferença.
terça-feira, 26 de agosto de 2008
segunda-feira, 25 de agosto de 2008
"Ghost-writers" das leis, consultores legislativos
Inaurando o meu blog repasso uma matéria bastante atual na nossa vida do tudo "faz-de-conta".
Eu pensava que os nossos parlamentares legislavam, entretanto não é bem assim. Então Leiam a reportagem abaixo da jornalista do Uol Cláudia Andrade de Brasília.
Saúde e paz
Azevedo.
Claudia Andrade - De Brasília
Os deputados e senadores levam a fama, mas a maioria dos projetos, relatórios e pronunciamentos apresentados no Congresso Nacional não são de autoria dos parlamentares nem de seus assessores diretos. No anonimato, uma equipe de servidores públicos concursados dedica-se a transformar em páginas e páginas de artigos e dados técnicos a idéia inicial do senador ou deputado. Mais do que atender os pedidos, os consultores orientam os parlamentares a respeito das demandas apresentadas. Desta forma, tornam-se formadores de opinião dos políticos. Gustavo Taglialegna, um dos 147 consultores do Senado que atuam como "gost-writters" das leis"Ghost-writers" das leis, os consultores legislativos são quase 350 na Câmara e no Senado. Estima-se que 9 em cada 10 projetos têm os dedos deles em sua elaboração. "O senador pode apresentar o projeto que ele quiser, até um para revogar a lei da gravidade. A gente faz, mas entrega junto uma nota técnica alertando que ele pode ser ridicularizado, que a comunidade científica provavelmente vai contestar, por se tratar de uma lei muito importante. Ele pode seguir nossa orientação e abandonar o projeto ou insistir e apresentar mesmo assim. Isso fica a cargo dele", ilustra o consultor-geral do Senado, Bruno Dantas.Os casos em que um projeto sofre alterações a partir das sugestões da consultoria legislativa são comuns. Dantas cita como exemplo a Lei de Falências, sancionada em fevereiro de 2005. "O projeto chegou bem cru pra gente. Um dos nossos melhores consultores analisou e argumentou com o senador Ramez Tebet (relator do projeto na Casa) que, do jeito que estava, a proposta não ia mudar nada, ia causar ainda mais confusão", conta o consultor-geral.Segundo ele, dos 100 artigos que compunham a matéria inicialmente, a consultoria chegou a 300 no substitutivo. "O difícil foi o senador convencer o líder do governo e o Ministério da Fazenda de que as mudanças eram necessárias. Porque, como o Senado é uma casa revisora, com as mudanças o projeto teve de voltar para a Câmara para ser votado mais uma vez, o que levou mais tempo. Mas o resultado foi uma lei bem mais completa", avalia.
Ministro diz não ter lido plano de reforma política
O ministro das Relações Institucionais, José Múcio, admitiu que não leu documento entregue ao presidente Lula na semana passada com as propostas do governo para a reforma política. O texto, divulgado pela Folha, cita a existe um "incentivo ao mercado partidário para manutenção das bases de coalizão". "Ninguém falou em um mercado partidário. A proposta não fala disso. É tudo um mal-entendido", insistiu Múcio.O inverso também ocorre, quando um consultor não consegue convencer o parlamentar a incluir algum artigo que considera importante. Dantas cita um exemplo que ele mesmo vivenciou. "Eu achava que a Lei de Execução (que trata de ações de cobrança) podia ser mais audaciosa no sentido de proteger melhor o credor. Porque as leis sempre têm um viés mais para o devedor, que é tratado como coitadinho, o que nem sempre é verdade. Mas não consegui incluir algumas sugestões porque o senador disse que os acordos para a aprovação já tinham sido fechados e não tinha como fazer mudanças."Para o consultor-geral, é importante manter um certo distanciamento do trabalho. "O consultor não pode ter paixão pelos projetos. Mas é verdade que uma das coisas mais frustrantes é elaborar um discurso e não vê-lo pronunciado", admite. Gustavo Taglialegna é um dos 147 consultores do Senado. Ele trabalhou no projeto da Lei de Biossegurança e, a partir dele, desenvolveu tese de mestrado sobre a atuação de grupos de pressão na tramitação do projeto. "Mesmo a gente sendo 'ghost-writer' é gratificante ver uma lei sendo aprovada e saber que a gente teve uma participação ali", conta. Opiniões pessoaisSe a análise técnica permite intervenções do consultor, por meio de nota técnica anexada ao projeto, relatório ou pronunciamento, opiniões pessoais e ideologias políticas devem ficar fora do trabalho. "Não há nenhuma restrição ao consultor se filiar a um partido político. Ele só não pode transpor sua ideologia para o trabalho. Antes de voltar para o gabinete do senador, um projeto passa por quatro pessoas. Isso serve não apenas para identificar erros conceituais e de gramática como também para identificar qualquer intervenção ideológica, que não é tolerada", ressalta o consultor-geral. Por outro lado, a consultoria pode avaliar o efeito prático de uma idéia que tenha origem puramente política. "Muitas vezes um parlamentar representa um determinado grupo e sofre pressão para apresentar um determinado projeto, que não é viável. Nós preparamos o projeto, mas dizemos que ele tem tais e tais problemas. Normalmente o que acontece é que o senador cumpre seu papel, mostra o projeto e a nota para seus apoiadores e pergunta: 'e aí, vocês estão dispostos a enfrentar todos esses obstáculos?'", exemplifica.Na opinião de Bruno Dantas, sem o trabalho da consultoria, "o senador não tem condição de exercer o mandato". "Ele tem conhecimento em duas ou três áreas, mas é requisitado para tudo. Aí é que a gente entra", diz. PerfilPara atender aos 81 senadores, os 147 consultores se dividem em quatro grandes áreas de atuação: direito, economia, social e pronunciamentos, cada uma com subdivisões. Ao prestar concurso, o candidato já faz a opção pela área em que deseja atuar, o que não impede que médicos ou historiadores atuem na área de direito, por exemplo. A área social conta com antropólogos, educadores e sociólogos, entre outros. Em tempo: o salário de um consultor em início de carreira é de R$ 11 mil. O último concurso foi realizado em 2002 e o consultor-geral já aponta carência em algumas áreas. "O direito penal tem falta de consultor, porque tem muita CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), que tem apelo popular muito grande, e por isso os senadores sempre querem apresentar algum relatório ou projeto. A área de Minas e Energia, com o 'boom' do petróleo e do gás, também tem um volume muito grande de trabalho, para apenas dois consultores", cita. Como alguns dos integrantes da equipe já estão aptos a se aposentar, Dantas espera a realização de um novo concurso, ainda sem previsão para ocorrer. A equipe atual é formada em sua maioria por homens e a faixa etária vai de 28 a 68 anos. Consultoria externaA Câmara dos Deputados também possui um serviço de consultoria legislativa dedicado a elaborar projetos, relatórios e pronunciamentos para os parlamentares. A reportagem do UOL tentou falar com Ricardo Rodrigues, diretor do serviço de consultoria, que não quis dar entrevista.Uma reportagem publicada pelo jornal "Correio Braziliense" no início do mês apontou que das 1.429 proposições apresentadas entre fevereiro e junho deste ano, apenas 437 foram feitas pela equipe de 200 consultores da Câmara. Ou seja, em quase 70% dos casos, as consultorias externas foram privilegiadas. Neste caso, os deputados pagariam o serviço com a verba indenizatória de R$ 15 mil a que têm direito mensalmente.No Senado, o consultor-geral estima que "mais de 90%" dos projetos apresentados passem pela consultoria interna. Os demais ficariam a cargo dos assessores pessoais dos parlamentares ou de consultorias externas. "O problema é que a consultoria externa sempre tem lado. Nós não temos lado, porque não podemos ser mandados embora nem temos nosso salário reduzido", pondera.Bruno Dantas acredita que os consultores do Senado têm mais condições de atender aos pedidos, uma vez que a clientela para a qual prestam serviço é menor. "Mesmo se ele for do baixo clero, não tiver uma boa equipe de assessores com ele, a gente vai atender do mesmo jeito", afirma. No primeiro semestre deste ano, o setor recebeu quase 5.000 solicitações. Ao longo de todo o ano passado, foram 9.500. Na Câmara, a demanda dos 513 deputados pode atingir 28 mil solicitações por ano.
Eu pensava que os nossos parlamentares legislavam, entretanto não é bem assim. Então Leiam a reportagem abaixo da jornalista do Uol Cláudia Andrade de Brasília.
Saúde e paz
Azevedo.
Claudia Andrade - De Brasília
Os deputados e senadores levam a fama, mas a maioria dos projetos, relatórios e pronunciamentos apresentados no Congresso Nacional não são de autoria dos parlamentares nem de seus assessores diretos. No anonimato, uma equipe de servidores públicos concursados dedica-se a transformar em páginas e páginas de artigos e dados técnicos a idéia inicial do senador ou deputado. Mais do que atender os pedidos, os consultores orientam os parlamentares a respeito das demandas apresentadas. Desta forma, tornam-se formadores de opinião dos políticos. Gustavo Taglialegna, um dos 147 consultores do Senado que atuam como "gost-writters" das leis"Ghost-writers" das leis, os consultores legislativos são quase 350 na Câmara e no Senado. Estima-se que 9 em cada 10 projetos têm os dedos deles em sua elaboração. "O senador pode apresentar o projeto que ele quiser, até um para revogar a lei da gravidade. A gente faz, mas entrega junto uma nota técnica alertando que ele pode ser ridicularizado, que a comunidade científica provavelmente vai contestar, por se tratar de uma lei muito importante. Ele pode seguir nossa orientação e abandonar o projeto ou insistir e apresentar mesmo assim. Isso fica a cargo dele", ilustra o consultor-geral do Senado, Bruno Dantas.Os casos em que um projeto sofre alterações a partir das sugestões da consultoria legislativa são comuns. Dantas cita como exemplo a Lei de Falências, sancionada em fevereiro de 2005. "O projeto chegou bem cru pra gente. Um dos nossos melhores consultores analisou e argumentou com o senador Ramez Tebet (relator do projeto na Casa) que, do jeito que estava, a proposta não ia mudar nada, ia causar ainda mais confusão", conta o consultor-geral.Segundo ele, dos 100 artigos que compunham a matéria inicialmente, a consultoria chegou a 300 no substitutivo. "O difícil foi o senador convencer o líder do governo e o Ministério da Fazenda de que as mudanças eram necessárias. Porque, como o Senado é uma casa revisora, com as mudanças o projeto teve de voltar para a Câmara para ser votado mais uma vez, o que levou mais tempo. Mas o resultado foi uma lei bem mais completa", avalia.
Ministro diz não ter lido plano de reforma política
O ministro das Relações Institucionais, José Múcio, admitiu que não leu documento entregue ao presidente Lula na semana passada com as propostas do governo para a reforma política. O texto, divulgado pela Folha, cita a existe um "incentivo ao mercado partidário para manutenção das bases de coalizão". "Ninguém falou em um mercado partidário. A proposta não fala disso. É tudo um mal-entendido", insistiu Múcio.O inverso também ocorre, quando um consultor não consegue convencer o parlamentar a incluir algum artigo que considera importante. Dantas cita um exemplo que ele mesmo vivenciou. "Eu achava que a Lei de Execução (que trata de ações de cobrança) podia ser mais audaciosa no sentido de proteger melhor o credor. Porque as leis sempre têm um viés mais para o devedor, que é tratado como coitadinho, o que nem sempre é verdade. Mas não consegui incluir algumas sugestões porque o senador disse que os acordos para a aprovação já tinham sido fechados e não tinha como fazer mudanças."Para o consultor-geral, é importante manter um certo distanciamento do trabalho. "O consultor não pode ter paixão pelos projetos. Mas é verdade que uma das coisas mais frustrantes é elaborar um discurso e não vê-lo pronunciado", admite. Gustavo Taglialegna é um dos 147 consultores do Senado. Ele trabalhou no projeto da Lei de Biossegurança e, a partir dele, desenvolveu tese de mestrado sobre a atuação de grupos de pressão na tramitação do projeto. "Mesmo a gente sendo 'ghost-writer' é gratificante ver uma lei sendo aprovada e saber que a gente teve uma participação ali", conta. Opiniões pessoaisSe a análise técnica permite intervenções do consultor, por meio de nota técnica anexada ao projeto, relatório ou pronunciamento, opiniões pessoais e ideologias políticas devem ficar fora do trabalho. "Não há nenhuma restrição ao consultor se filiar a um partido político. Ele só não pode transpor sua ideologia para o trabalho. Antes de voltar para o gabinete do senador, um projeto passa por quatro pessoas. Isso serve não apenas para identificar erros conceituais e de gramática como também para identificar qualquer intervenção ideológica, que não é tolerada", ressalta o consultor-geral. Por outro lado, a consultoria pode avaliar o efeito prático de uma idéia que tenha origem puramente política. "Muitas vezes um parlamentar representa um determinado grupo e sofre pressão para apresentar um determinado projeto, que não é viável. Nós preparamos o projeto, mas dizemos que ele tem tais e tais problemas. Normalmente o que acontece é que o senador cumpre seu papel, mostra o projeto e a nota para seus apoiadores e pergunta: 'e aí, vocês estão dispostos a enfrentar todos esses obstáculos?'", exemplifica.Na opinião de Bruno Dantas, sem o trabalho da consultoria, "o senador não tem condição de exercer o mandato". "Ele tem conhecimento em duas ou três áreas, mas é requisitado para tudo. Aí é que a gente entra", diz. PerfilPara atender aos 81 senadores, os 147 consultores se dividem em quatro grandes áreas de atuação: direito, economia, social e pronunciamentos, cada uma com subdivisões. Ao prestar concurso, o candidato já faz a opção pela área em que deseja atuar, o que não impede que médicos ou historiadores atuem na área de direito, por exemplo. A área social conta com antropólogos, educadores e sociólogos, entre outros. Em tempo: o salário de um consultor em início de carreira é de R$ 11 mil. O último concurso foi realizado em 2002 e o consultor-geral já aponta carência em algumas áreas. "O direito penal tem falta de consultor, porque tem muita CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), que tem apelo popular muito grande, e por isso os senadores sempre querem apresentar algum relatório ou projeto. A área de Minas e Energia, com o 'boom' do petróleo e do gás, também tem um volume muito grande de trabalho, para apenas dois consultores", cita. Como alguns dos integrantes da equipe já estão aptos a se aposentar, Dantas espera a realização de um novo concurso, ainda sem previsão para ocorrer. A equipe atual é formada em sua maioria por homens e a faixa etária vai de 28 a 68 anos. Consultoria externaA Câmara dos Deputados também possui um serviço de consultoria legislativa dedicado a elaborar projetos, relatórios e pronunciamentos para os parlamentares. A reportagem do UOL tentou falar com Ricardo Rodrigues, diretor do serviço de consultoria, que não quis dar entrevista.Uma reportagem publicada pelo jornal "Correio Braziliense" no início do mês apontou que das 1.429 proposições apresentadas entre fevereiro e junho deste ano, apenas 437 foram feitas pela equipe de 200 consultores da Câmara. Ou seja, em quase 70% dos casos, as consultorias externas foram privilegiadas. Neste caso, os deputados pagariam o serviço com a verba indenizatória de R$ 15 mil a que têm direito mensalmente.No Senado, o consultor-geral estima que "mais de 90%" dos projetos apresentados passem pela consultoria interna. Os demais ficariam a cargo dos assessores pessoais dos parlamentares ou de consultorias externas. "O problema é que a consultoria externa sempre tem lado. Nós não temos lado, porque não podemos ser mandados embora nem temos nosso salário reduzido", pondera.Bruno Dantas acredita que os consultores do Senado têm mais condições de atender aos pedidos, uma vez que a clientela para a qual prestam serviço é menor. "Mesmo se ele for do baixo clero, não tiver uma boa equipe de assessores com ele, a gente vai atender do mesmo jeito", afirma. No primeiro semestre deste ano, o setor recebeu quase 5.000 solicitações. Ao longo de todo o ano passado, foram 9.500. Na Câmara, a demanda dos 513 deputados pode atingir 28 mil solicitações por ano.
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